Viagens

Uma noite de aventura em New York -  
O jantar romântico no Bateaux.


Uma querida amiga esteve em NY em julho e quando soube que Nei e eu iríamos para lá sugeriu-nos o passeio no Bateaux New York com jantar e música. Fizemos as reservas no próprio hotel e a concierge nos alertou de que deveríamos estar no barco entre 18h:15 e máximo 18h:30, pois o barco sairia do píer as 19h:00.

Dois dias antes o meu marido tinha comprado seu mais novo brinquedo, um IPad. Enquanto eu me arrumava para o jantar romântico ele brincava no IPad.
Este dia foi de real aventura, pois quase na hora de sairmos caiu um "toró brabo". Eu ouvia os trovões e me lembrava dos filmes de Hollywood onde sempre que chovia os personagens não conseguiam pegar um amarelinho.

Comecei a me preocupar com a chuva versus a tranqüilidade do meu marido e comecei a perguntar se ele não achava melhor irmos logo pegar um táxi antes que a chuva piorasse. E aí ele me tranqüilizou dizendo que o píer 61, de onde o barco partiria, era a apenas dez minutos do hotel. Bastava descer a 7th Avenida (passando pela turbulenta Times Square), virar na 24th Street e seguir até a 10th Avenida até o píer 61. Simples, rápido e fácil.

Fácil? Quando descemos e nos deparamos com um temporal e uma massa compacta de gente em frente ao hotel quase às tapas por um amarelinho nós percebemos que não seria assim tão fácil. Não conseguíamos táxi e se demorássemos mais cinco minutos poderíamos perder o barco.

Então o meu marido sugeriu sairmos debaixo da chuva (usando um guarda-chuva pequeno) e nos dirigirmos para a outra esquina e assim aumentar nossas chances de pegar um táxi. Oh doce ilusão. Eles passavam por nós como se não estivéssemos lá, embaixo da chuva, fazendo sinal.

Foi aí que surgiu um rapaz num riquixá oferecendo para nos levar, mas era impossível chegarmos secos ao barco indo de riquixa que era protegido por plásticos transparentes com zíperes. Agradecemos ao jovem e continuamos nossa empreitada. Afinal, eu acredito em milagres.

Nesse momento um senhor apareceu e falou algo para o meu marido e saiu. Então eu perguntei ao meu marido o que o homem queria e ele respondeu: Ele disse para colocar você na frente, que é bem mais bonita do que eu, que os táxis param. Fiquei feliz com o elogio, afinal quando se está perto de se completar cinqüenta anos, nós mulheres, ficamos mais sensíveis no quesito beleza versus juventude.

Graças a Deus a chuva parou e apareceu um belo rapaz com um par de pernas absurdamente fortes e nos ofereceu pela bagatela de 25 dólares nos levar de riquixá. Sem uma outra alternativa aceitamos a oferta.

Eu, montada num vestido preto, sapatos e meias de seda preta, colar e brincos Swarovisk, sentei-me dignamente ao lado do maridão no riquixá que foi fechado por plásticos e zíperes. Parecíamos um casal embalado num “Magipack” enquanto o belo rapaz pedalava velozmente pela 7th Avenida.

Sabem os motoboys de São Paulo que vão costurando entre carros e ônibus? Pois é, só que era um riquixá comigo dentro, toda chic e embalada a vácuo. Atravessamos pelo menos quatro semáforos vermelhos e invadimos a faixa de pedestres (cheia de pedestres, claro). Eu não sabia se orava para não recomeçar a chuva ou para chegar inteira ao final do percurso.

Quando nos aproximávamos da Times Square e eu via aquela massa de gente pensei: Agora é matar e morrer. Graças a Deus chegamos inteiros, secos e no prazo de embarcar.

Eu contei apenas metade da aventura, a ida. Agora vamos para a outra metade da aventura, a volta!
Ficamos tão desesperados com a possibilidade de perder o barco que nem nos lembramos de programar a volta, afinal poderia estar chovendo e eu estava usando sapatos de saltos...

Ok! Jantar maravilhoso, música gostosa, paisagens belíssimas e fim do passeio! Ao sairmos percebemos que em nosso barco estavam locais festejando aniversários. Inclusive havia um casamento com noiva de véu e grinalda, padrinhos e convidados... Eles tinham limusine esperando e os outros haviam deixado seus carros estacionados no píer. Meu marido e eu... Bem, meu marido e eu estávamos a pé, passava da meia-noite, chuviscando e eu de sapatos de saltos...

E agora? O meu marido viu um ponto de táxi dentro do píer e quis ir pra lá. Então deduzimos que num dia chuvoso a meia-noite seria bem difícil aparecer um táxi ali. Decidimos sair do píer, atravessar a avenida e garimpar um táxi. E também aproveitamos um grupo de pessoas que estavam atravessando a rua e por medida de segurança nos aproximamos do grupo, mas eles também queriam táxi. Como também não conseguiam foram se dispersando e acabamos sozinhos. Então eu disse para o maridão: Vamos caminhando em direção a 7th Avenida e se virmos um táxi a gente pega..

Conforme fomos caminhando foram surgindo quadras escuras e vazias. Meu corajoso marido então começou a dizer: Você quis caminhar, agora estamos num lugar escuro, vazio e desconhecido. Não tenho medo, mas acho perigoso. Devíamos ter ficado na avenida até encontrar um táxi...

De vez em quando passava um táxi e meu marido fazia um sinal tímido para ele e é óbvio que nada acontecia... Então eu disse, vamos continuar até a outra avenida movimentada, lá nós paramos pra pegar um táxi. Chegamos à avenida e os táxis passavam, meu marido continuava a fazer sinais tímidos e nada... Então eu comecei num ato de desespero a esticar o braço para todos os amarelinhos que passavam...

Num dado momento eu comecei a caminhar novamente e meu marido entrou em desespero: Você está louca? Pra onde vai? Eu disse: Pro hotel ou até aonde o salto permitir. Se não estivesse calçada com sapatos de salto alto e não estivesse chovendo iria a pé mesmo.

Numa certa rua havia um casal mais à frente. Quando passou um táxi meu lindo marido gritou da calçada: Táxi, tá livre? E eu disse: Querido, se tá difícil em inglês, em português fica pior... O rapaz que estava a nossa frente imediatamente pulou na frente do táxi negociou e entrou nele com sua parceira enquanto nós dois ficamos na calçada embaixo da garoa e o meu marido murmurando: Mas eu vi o táxi primeiro e gritei... Ele se aproveitou e pegou o meu táxi. Então eu disse: Querido, aqui é New York City. Não adianta fazer sinais tímidos. Táxi se pega no laço, dando uma gravata no pescoço do sujeito.

O detalhe mais importante que omiti nesta aventura é que eu não havia ido ao restroom (toillete, servicio, cuarto de banõ, banheiro, mictório) no Bateaux e naquele momento eu estava muito arrependida. Eu estava diante dum dilema físico (ou fisiológico) de quem iria suportar mais, os meus pés ou a minha bexiga cheia?

A esta altura já estávamos na Rua Broadway, e assim que chegamos vimos um táxi. Então meu marido, num ato heróico, pulou bravamente diante do táxi e conseguiu convencê-lo a nos transportar até o hotel.

Apesar de o hotel estar bem próximo de onde pegamos o táxi e mesmo assim ele ter dado voltinhas para cobrar mais, nós pagamos felizes e fomos para o conforto do nosso amado quarto. E eu direto, sem escalas, para o banheiro. Ahhhh que alívio.

The end. Ops... The happy end.

Comentários

  1. Hilário! Você descreve tão maravilhosamente a situação que me faz sentir uma expectadora in loco!

    Excelente.

    Beijo,

    Jackie

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  2. Querida Helô, fui pra New York com você. Você escreve muito bem e escolheu uma situação rica de detalhes. Ótimo início.

    Beijo

    Talita

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  3. Helô, vc escreve de modo muito agradável, parece que a gente está vendo a cena. Gostei muito, vou ler todos. Beijos.

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  4. Eu adoraria ter sido coadjuvante nessa história, como você, na minha aventura, no metrô de Paris. Espero nos encontrarmos em nova viagem, querida.
    Vai escrevendo, Helô! Você faz isso bem. Verá como faz bem à alma. Já estou lhe seguindo!
    Beijos mil. ( comentado em 13 de outubro de 2010 18:43)

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  5. Que relato mais gostoso de ler!!! Consegui imaginar as cenas, as caras que vcs certamente fizeram, tudo! Parabéns!

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