Tragam o bote salva vidas.
Tragam o bote salva vidas! - junto, com hífen ou separado? - Tanto faz, desde que não esqueçam o bote.
O domingo tinha sido perfeito. Quente e ensolarado. Lurdinha
estava linda, impecável toda “montada no salto alto”. Ela tinha ido almoçar na
casa da sogra com o seu digníssimo companheiro e seus queridos filhos Pedro
Manuel e João Pedro.
Final de tarde, já em casa, desmontada, descabelada, calçada
num par de chinelos, Lurdinha estava prostrada diante da TV com os dedos no
controle remoto perambulando entre os canais em busca de alguma coisa que
pudesse entretê-la.
Os filhos tinham saído e o maridão estava na varanda lendo o
caderno de esportes. Já que o seu magnífico e maravilhoso marido estava ocupado destrinchando
o caderno de esportes atrás de notícias sobre futebol, Lurdinha procurava se entreter com a TV e assim relaxar. Se bem que, cá pra nós, relaxar do que se ela tinha
acabado de chegar de um almoço na casa da sogra? Opss! Eu acho que visitar a
sogra pode ser estressante.
Mas de repente tudo começou. O céu escureceu e uma chuva imensa
desabou. Simples assim.
- Simples assim? Como assim, narrador de desgraças alheias?
Conta essa história direito. Só porque sou personagem, cria sua, vai tratar
minha história assim? Conta logo que o mundo desabou em água, que eu quase
morri afogada ou eletrocutada por um raio! Vai, escreve aí e não omita nenhum
detalhe.
- Quer saber narrador? Não conta nada! Deixa que eu conte
tudo como foi:
- Estava eu “di boa” vendo TV quando começou a chover. Então
saí da sala e fui verificar se as janelas dos quartos estavam fechadas. Quando
voltei percebi que não era uma chuva qualquer e sim uma tempestade. O vento uivava
açoitando as plantas com violência. Junto com a água também havia raios,
trovões e granizos. Muitos granizos.
Corri para a cozinha pegar velas e fósforos prevendo a
possibilidade da energia acabar. E acabou! Quanto retornei à sala, qual não foi
o meu susto? E não é que a janela da sala se transformou numa enorme cachoeira
e a água já estava entrando debaixo do sofá?
Desesperada eu corri até o banheiro, peguei uma toalha de
banho e tentei estancar a água. De nada adiantou e a água continuava a invadir
a sala. Em segundos me senti no Titanic. Oh céus e agora, o que fazer? Quem
poderia me defender? Oh, claro, meu herói, o maridão lindo, fortão, sarado e
corajoso. Comecei a gritar pelo meu querido, amado, idolatrado, salve, salve marido.
- Socorro, me ajuda! A água está inundando a sala! Se não
vier ajudar vou me afogar. Traga mais toalhas para estancar a água! Hei marido
lindo, fofo, corajoso e surdooooooo. Tem alguém aí? Aí? Aí?
Nada. Nenhuma resposta. Silêncio absoluto. Apenas o eco da
minha voz e o barulho infernal da tempestade. Parecia que iria arrancar o
telhado da casa. Desisti de esperar pelo salvamento do super-herói. Então deixei
a toalha no chão e fui até a cozinha pegar os tapetes para ajudar a estancar a
água que teimava em invadir tudo.
Foi quando resolvi arriscar um olho para ver o que meu amado
e querido marido surdo fazia na varanda que não podia me socorrer na inundação
do Titanic.
Foi aí que percebi que enquanto eu protagonizava o Titanic
na sala o meu lindo estava, pobrezinho, agachado no chão da varanda, parecendo
um pinto molhado, grudado, agarrado na perna do banco, tentando proteger móveis ou com
medo de ser levado pela força do vento...
Eu agora? Morro afogada no Titanic ou enfrento o açoite por
toda a sorte de coisas trazidas pelo vento e salvo meu amado? Sem contar com o bombardeio dos
granizos que se acumulavam pelo chão.
Voltei ao Titanic, quer dizer sala, coloquei os tapetes
como barreira para segurar a velocidade da água e fui para a varanda ajudar a salvar o que sobrou.
O vento era tão forte que as paredes da casa estavam
cobertas de vegetação moída trazida pela força do carrasco. Os granizos passavam
pela varanda, de cinco metros de largura, tal qual um jogador de rúgbi desviando-se
de todos os obstáculos, entrava pela janela da cozinha e paravam atrás da
geladeira. Pareciam que todos os granizos eram treinados. Uma mira certeira, precisa.
Pensei: “Daqui a pouco vai passar voando cachorro, vaca, galinha”...
Tudo ficou encharcado e sujo. Nas paredes, destroços de
plantas e no chão uma camada grossa de granizo misturada a tudo o que veio com
o vento.
Quando a tormenta passou, começamos em meio à escuridão,
tentar organizar o que sobrou da varanda e quintal. Foi aí que decidimos olhar na rua para vermos
o tamanho dos estragos. Parecia até um filme de invasão alienígena. Sabe aquela
cena clássica quando aparecem pessoas atônitas vagando pelo meio da rua? Os
vizinhos estavam perplexos com a destruição. Uma tempestade que durou eternos
quinze minutos. Árvores e galhos caídos, plantas moídas, paredes descascadas...
Os vizinhos comentaram que em mais de vinte anos nunca tinham visto tempestade tão
violenta como a que acabara de acontecer.
- Aprendeu narrador? É assim que se conta uma história.
Agora pode encerrar a minha aventura.
E a Lurdinha e o seu maridão lindo e fortão descobriram que para a natureza não há lugar seguro quando ela resolve se rebelar. E assim, eles foram dormir à
luz de velas.
E passaram o resto da semana tentando consertar o telhado da
varanda que voou... Afinal a Lurdinha não viu vaca voando, mas telhado viu. Ah!
E como viu.
Atenção: Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança é
mera coincidência.
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Helô querida...QUE MÁXIMO!!!Adorei o texto mas principalmente da maneira com que vc escreveu...simples...f;acil de ler e compreender...muito bom mesmo!!!
ResponderExcluire vc? tudo bem por aí? dançando muuuuuito???e viagens? ,e escreva contando as suas boas novas!
Agora sou uma consultora de beleza MARY KAY...Estou adorando porque os produtos são muito bons e se vc está vendo os resultados é fácil de passar adiante,não é mesmo? Vamos nos falando e PARABÉNS pelo texto! beijão
Gente, mas que loucura! HAUHAUHA
ResponderExcluirMuito bom o texto. Tenho um marido que também faria a mesma coisa, graças a Deus.
beijo!
HUhuahuaheaheahhahehahhaha!!!! Tia, MUITO BOM!!!! Você escreve magnificamente! =D
ResponderExcluirImpressionante essa história, hein! Coitada da Lurdinha! hahahahahaha!
(Percebeu que agora tou tentando comentar aqui pelo blog como você pediu, né? hahaha... Inclusive, FIQUEI CHOCADA HOJE, porque eu jurava que eu seguia o seu blog e quando olhei minha lista vi que o seu não tava la!!!!!! Mas já corrigi esse erro absurdo. rs)
Grande beijo e continue sendo assim, maravilinda!
Helô, você sempre surpreendendo! Achei super original essa história do personagem interagir com o autor. Muito legal mesmo! Parabéns, querida!
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