O duelo de Nicinha e a RatazAna.


Eu estava tranquila em meu escritório lendo minhas mensagens quando o telefone tocou. Bem, aqui eu abro um parêntese, pois o telefone da minha casa não toca mais da maneira convencional, ou pelo menos, como se espera que um telefone normal, que cumpra as suas funções para o qual foi fabricado, funcione. Ele atualmente dá gemidos e sussurros. A cada chuva torrencial, ou espirros que caem na cidade e arredores, ele simplesmente deixa de tocar normalmente e passa a fazer pequenos ruídos quando precisa avisar que tem alguém te ligando. E agora Telefonica, como resolver meu telefone com soluço?

Bem, voltando ao importante e deixando o de sempre para depois. Atendi ao telefone e do outro lado ouço a voz alegre da Nicinha:
- Oi, tudo bem? Eu to te ligando pra perguntar o que é melhor ingerir, óleo de coco em cápsula ou direto na colher? É que eu li que ele ajuda a quem quer parar de fumar e como eu sei que você lê tudo sobre essas coisas... E depois você me mandou aquele e-mail sobre óleo de coco...

Eu havia enviado, na semana anterior, um e-mail para minhas amigas sobre os benefícios do consumo de óleo de coco e algumas pessoas que me conhecem sabem que quando eu vejo essas novidades costumo pesquisar sobre o assunto... Virou uma mania... A propósito, eu não faço a menor ideia se a ingestão do óleo ajuda a quem quer parar de fumar.

Respondi a dúvida da Nicinha quando ela disparou:
- Menina, você ficou sabendo? Ai, eu to vivendo num sufoco com a casa toda fechada.

- Ah, eu fiquei sabendo sim. É o caso do rato que fica na sua área de serviço? Você ainda não conseguiu matar o bicho? No almoço de domingo, o pessoal comentou sobre seu “entrevero” com o rato. A Lurdinha disse que a melhor forma ainda é a velha e boa ratoeira. E olha que ela falou com uma voz de experiência.

- Ratoeira? Você nem imagina o que eu já fiz tentando matar esse rato. E muito menos o que ele, o rato é claro, fez.

Pausa... Agora é entre mim e você! Pois bem meu caro leitor. Como já se dizia na TV Cultura, quando eu assistia aos programas infantis juntamente com minhas lindezas de filhas: “Senta que lá vem história!”.

Saindo da pausa e voltando ao rato, quer dizer, a Nicinha:
- Ai menina. Não sei se ficou sabendo, mas a mulher que mora no apartamento que fica sobre o meu faleceu. Pois é. Ela teve um “pirepaque” numa noite e morreu. E o apartamento está do jeito que ela deixou, com tudo dentro e fechado.

- Como assim? Ela não tinha família? E a imobiliária o que diz disso tudo?

- Então, deixa eu te contar. Ela tinha um filho, mas ele não tem coragem de entrar no apartamento pra mexer nas coisas da mãe. E o pessoal da imobiliária já pediu autorização para limpar o imóvel e tirar as coisas da falecida e guardá-las num local até que ele tenha coragem de ir buscar. Mas... Você acredita que ele não aceitou? E a imobiliária só vai poder abrir o imóvel com uma ordem judicial...

- Sei, sei. E aí?

- E aí que a mulher deve ter deixado lixo na lixeira. E esse lixo atraiu o rato. Alimentou o bicho. E ele engordou. Cresceu. Entediou-se e agora, durante a noite, fica entre a minha área de serviço e a dela fazendo a maior bagunça, sujeira e barulho.

Outra pausa... Apenas para o leitor tomar pé da situação. Nicinha mora no apartamento térreo cuja área de serviço é descoberta, como um quintal, só que minúsculo, do tipo lavanderia.

- Poxa, você vai me deixar contar a minha triste história ou vai ficar dando pausa pra falar com esse tal de leitor? Então menina, já tem uns dias que esse rato está me infernizando. Eu não posso deixar portas e janelas abertas senão ele entra. Eu não saio nem pra lavar roupa. Sabe aqueles rodinhos que se coloca nas portas pra proteger contra entrada de água e insetos? Você acredita que ele roeu tudo, menina? E as telas que eu coloquei nas janelas, aquelas pra proteger contra entrada de mosquitos? Ele também roeu. Eu já coloquei todo tipo de veneno e ele não morre. Também coloquei ratoeira e não pegou. Semana passada eu fui à loja comprar veneno e o homem me vendeu chumbinho e disse que eu tinha que colocar dentro da banana pra ele ser enganado com o cheiro forte da fruta, comer e morrer. O homem disse que eu precisava tomar cuidado ao manusear o produto, mas que era ba-ta-ta. Disse que deveria usar luvas porque era um veneno muito perigoso. Eu e minha vizinha fizemos isso com o maior cuidado... Calçamos as luvas e colocamos o tal chumbinho dentro dos pedaços de banana e os espalhamos pela área de serviço por onde o monstro circulava. E circula ainda.

- Pelo jeito não funcionou. Funcionou?

- Não. Claro que não. Acho que o rato riu da gente. No dia seguinte amanheceu um pedaço de banana grudado na minha janela. O rato esfregou a banana na minha janela pra mostrar que não é burro. Pode uma coisa dessas?

- É verdade, ele não é burro. É um rato... E agora?

Agora? Agora que eu to aqui falando com você e me lembrei de uma coisa. Na noite passada ele desceu e ficou batendo na minha porta e janela tentando entrar. Fez barulho a noite inteira e não me deixou dormir. A janela da minha casa é de trinco de enganchar e eu pensei: “Se ele ficar batendo, pode conseguir abrir o trinco da janela e entrar. Preciso amarrar esse trinco por segurança.”. Só que eu me esqueci de fazer isso antes de sair para o trabalho. E agora? E se ele conseguiu entrar?

- Porque não arruma um gato? Gato gosta de caçar e vai espantar o rato? Pode ser uma boa. E ainda vai ter um companheiro.

- Aonde vou arrumar um gato? - E se o rato abriu o trinco enquanto estou no trabalho e entrou em casa, o que vou fazer?

- Ah, compra uma coleira pra ele, e assiste à novela das oito em companhia do rato. Quem sabe o que ele não quer apenas estabelecer a política de boa vizinhança? De repente esse rato é uma ratazana enorme, já que faz tanto barulho, deve ser do tamanho de um gato. Dá pra virar animal de estimação. Já que não consegui exterminar o bicho, talvez o melhor seja iniciar uma longa amizade com o ratão. Com certeza não vai deixar estranhos entrar em casa.

Coitada da Nicinha. Ela desligou o telefone com a voz aflita, temendo que o rato já estivesse dentro da sua casa.

E eu, com minha cabeça fértil e imaginação infantil fiquei pensando num rato enorme, com pelos cinza escuro, olhos vermelhos e esbugalhados, bocarra escancarada mostrando os dentes e as patas arranhando a porta da casa da Nicinha. E ela, pobrezinha, do outro lado da porta com um spray mata baratas em uma mão e uma vassoura na outra, apavorada, implorando por um milagre.

Aí o imaginei, como um ratão meliante, aproveitando que a dona da casa estava ausente, e com um pedaço de arame forçando o frágil trinco da janela.

Depois já imaginei a Nicinha, refestelada no sofá, tomando uma cervejinha gelada enquanto assistia ao Programa do Faustão. Ao seu lado, sobre uma almofada fofa, degustando um suculento pedaço de queijo o ratão de estimação, com uma linda coleira vermelha e lacinho na cabeça. Ele tinha acabado de voltar do pet shop e descansava com a sua dona, Nicinha.
Nicinha, não fique brava comigo, mas eu não podia deixar de compartilhar a sua história.
---
Se gostou (ou não) do texto, por gentileza comente logo abaixo em "Comentários". Deixe registrado no blog a sua opinião. Muito obrigado por ter conseguido chegar até aqui.


Comentários

  1. Opa, mãe! Coitada da tia!
    Muito complicado isso do rato... Um gato talvez fosse uma boa! Ou a adoção mesmo!

    ResponderExcluir
  2. Gente, se não fosse o seu blog (e a sua irmã) eu diria que foi a minha mãe quem escreveu isso. É a cara dela....ahahahahah... vou mandar o link para ela ler, morri de rir :)
    Beijocas!

    ResponderExcluir
  3. Coitada da Nicinha,ninguém merece!!!!!
    Se isso tivesse acontecido comigo,eu teria tido um piri-pac...teria feito o maior escândalo...tenho pavor de rato!!!!!!!...já sou vacinada contra eles,descobri um veneninho que é vapt-vupt...tipo umas pastilhinhas cor de rosa,não me recordo do nome,que é tiro e queda,um santo veneninho....milagroso até!!!!!...e adeus ratinho!!!!!bjo

    ResponderExcluir
  4. gostei x) a Nicinha terá que aprender da pior forma de que, quando não se pode mais lutar, só resta se aliar. haha excelente narração, parabéns!

    ResponderExcluir
  5. Gracinha, não gostei nãaaaaaaaaaaaaaoooooooo.... pois estou apavorada,isso sim, facil rir né.


    Eunice

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Querida Eunice,vai até o mercado,pergunta sobre um veneno de rato rosa,compra e espalha alguns em lugar estratégico...dentro de uns dias ...adeus ratinho!!!!bj

      Excluir
  6. Tadinha da Nice.....mas agora ela não pode reclamar que não companhia

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Obrigada pela visita. Volte sempre que sentir saudades. E por favor, registre aqui a sua opinião:

Postagens mais visitadas deste blog

Poda

A Partida (na visão de quem fica)

A minha mãe não morreu.