Neco Peteco e o saco de açúcar.
É engraçado como a minha imaginação é rápida e fértil. Uma frase
ou uma simples palavra podem me levar à construção de um cenário completo com
personagens e toda a riqueza de detalhes que me espanta. Certa vez minha
cunhada comentou:
- Helô, você conta as coisas de um jeito que a gente entra
na história. Parece de verdade. Você devia escrever essas histórias.
É claro que eu não cri na conversa da minha cunhada. Até
parece que meia dúzia de bobagens proferidas me tornaria uma escritora, mas a
verdade é que eu tenho mesmo essa facilidade de criar cenários e histórias em
minha cabeça e que raramente vão para o
papel, digo, computador.
Certo dia eu estava conversando com meu companheiro sobre as
aventuras vividas em nossa infância e as diferenças existentes entre a educação
de hoje e da nossa época de pequenos.
Em dado momento ele me contou que sua mãe o mandava buscar açúcar
no empório e que ele andava quilômetros carregando um saco de cinco
quilos. E com um detalhe de deixar o cabelo em pé de qualquer delegado de
proteção do menor: ele tinha apenas cinco anos. Apenas cinco aninhos. Consegue imaginar?
Então eu comentei que quando somos crianças tudo tem um significado
maior: casa, cidade, distância, animais. Do ponto de vista de uma criança tudo é
bem maior do que realmente é. Você já voltou para visitar algum lugar em que
conhecera quando era criança e o achava enorme? Não fica a sensação de que tem alguma coisa errada, pois o
lugar encolheu?
Ah, em vão foram os meus argumentos, pois ele continuava
irredutível: - É verdade, eu me lembro de andar quilômetros carregando
aquele saco que era quase do meu tamanho e eu ficava mudando o peso de lado porque
doía meu braço. Minha mão ficava marcada.
E eu comentei: - A sua mãe pode ter sido severa, mas não
acredito que ela mandaria uma criança de apenas cinco anos caminhar quilômetros
carregando um saco de açúcar. Nossa, se isso realmente foi verdade e não fruto
da sua imaginação, nos dias de hoje ela seria acusada de maus tratos e correria
o risco de perder a sua guarda.
Fim da conversa e aí eu falo para ele: - Caramba, eu estou
vendo você pequeno, franzinho, branquinho e com seus cabelinhos loiros quase
brancos caminhando por uma estrada enorme sem fim. Seu rostinho está suado e
vermelho de tanto andar e carregar um saco enorme de açúcar. De vez em quando
você pára, limpa o suor do rosto com sua mãozinha franzina e troca o peso de
mão. Então olha para trás e vê a estrada
infinita que já percorreu. Daí olha para frente e percebe a estrada infinita
que ainda precisa enfrentar.
– Pausa -
Já se passaram algumas horas da nossa conversa, mas minha mente é perversa. Quando uma imagem cria vida em meu cérebro costuma demorar a ir embora. E neste momento o Neco ainda carrega um enorme saco de açúcar pela estrada infinita. Seu rostinho está ainda mais vermelho e banhado de suor. Seus cabelinhos finos e quase brancos grudam em sua testinha úmida. Suas mãozinhas estão vermelhas e marcadas pela alça do saco de açúcar. Sua casa nunca chega.
– Pausa -
Já se passaram algumas horas da nossa conversa, mas minha mente é perversa. Quando uma imagem cria vida em meu cérebro costuma demorar a ir embora. E neste momento o Neco ainda carrega um enorme saco de açúcar pela estrada infinita. Seu rostinho está ainda mais vermelho e banhado de suor. Seus cabelinhos finos e quase brancos grudam em sua testinha úmida. Suas mãozinhas estão vermelhas e marcadas pela alça do saco de açúcar. Sua casa nunca chega.
Oh imaginação cruel. Por quanto tempo esse pequeno menino,
de apenas cinco anos, caminhará pela estrada da minha mente carregando um
enorme saco de açúcar? Sua camisa já está molhada de suor, o saco de açúcar já
está quase ultrapassando a sua pequena estatura e ele simplesmente o arrasta pela estrada levantando um enorme rastro de poeira, com suas frágeis mãozinhas de uma criança de cinco anos.
Será que Neco chegará em sua casa arrastando um enorme saco de açúcar? Será que conseguirei me livrar desta imagem agora que eu a coloquei em sua mente querido leitor(a)? Quem sabe?
Será que Neco chegará em sua casa arrastando um enorme saco de açúcar? Será que conseguirei me livrar desta imagem agora que eu a coloquei em sua mente querido leitor(a)? Quem sabe?
Hahahah, já to vendo o pai, coitadinho!
ResponderExcluirkkkkk... Muito boa essa, viu, amiga! Aposto que todos esses quilômetros não passavam de três infindáveis quarteirões, rs. Será? Adorei!
ResponderExcluirEstá vendo ?? hoje não deixamos eles nem carregarem a mochilinha da escola ..rs
ResponderExcluirNão demore tanto tempo para escrever ok?
Muito bom !!
Menina, parece a minha mãe escrevendo (anime-se: ela já publicou 2 romances). Até o blog dela tem o formato parecido com o seu, sem dizer que ela vive contando "causos" da infância dela, nossa e do meu pai. Parecem até irmãs! Vai lá e vê se não é: http://espiritodeescritora.blogspot.com/
ResponderExcluirAdorei! Beijocas :)
Helo, sua danada, voce escreve bem pra chuchu... E agora vou dormir pensando no garotinho branquinho, loirinho, todo suado, sedento e cansado carregando seu saco de açúcar....
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