Parabéns, hoje é o seu dia , que dia mais feliz.


Acordei na madrugada de 14 de janeiro de 1987 e estava quente. Absurdamente quente... O suor escorria pelo meu corpo e minha camisola grudava nele. De repende senti um líquido quente escorrendo, e não era suor. Sentei na cama e pensei: “Será?”. Deitei-me novamente e fiquei esperando mais algum sinal...

Amanheceu. Levantei-me, preparei o café da manhã e acordei meu marido. Contei para ele o ocorrido. Então ele achou prudente ligar para o médico. Este, assim que me ouviu, pediu que eu fosse imediatamente ao seu consultório. Tomei um banho rápido e nos dirigimos ao consultório médico.
Chegando lá o médico me examinou e disse que estava tudo bem. Mandou-me de volta para casa dizendo que se eu sentisse qualquer coisa para contatá-lo imediatamente. Meu marido me deixou em casa e foi para o escritório.

E o calor insuportável continuava. Além do calor, uma pequena dorzinha me acompanhava desde a madrugada. Por volta das 13h a dorzinha aumentou e eu falei para a minha "sogra ansiosa":
- Acho que agora é pra valer. Ligue para meu marido vir me buscar, pois chegou a hora.
Enquanto minha "sogra ansiosa" se desesperava em contatar meu marido, fui tomar um último banho antes da modificação radical que iria acontecer em minha vida.
Meu marido chegou e minha "sogra ansiosa" e eu estávamos prontas, aguardando. Eu usava o meu vestidinho de malha, amarelo, pois era o único que eu suportava vestir naquele momento.

Entramos no carro e meu querido marido falou:
- Antes de irmos para o hospital vamos dar uma paradinha no escritório porque eu me esqueci de fazer uma coisa importante.
Caramba! O que seria mais importante do que levar a mulher com dores de parto para o hospital?

Bem, nós morávamos no Jardim da Saúde, na Lino Guedes, travessa da Rua Vergueiro, já bem perto da rodovia Anchieta. O escritório ficava na França Pinto, Vila Mariana. E o hospital que eu iria era o Samaritano na Rua Conselheiro Brotero, que fica no bairro Higienópolis. Quem conhece São Paulo irá reconhecer as distâncias.
Pois bem, meu marido parou o carro em frente ao escritório e pediu para eu esperar um pouquinho. E fiquei dentro do carro, com  as contrações, esperando “um minutinho”. Nesta parte da história existe um impasse, pois para mim a espera foi uma eternidade, afinal eu estava tendo contrações, mas para meu marido foi rapidinho.

Chegamos ao Hospital Samaritano quase 16h, e enquanto as enfermeiras me levavam para o quarto o meu marido foi travar batalha com a burocracia da internação.
Minha "sogra ansiosa" me acompanhou ao quarto. As enfermeiras entravam e saíam, e as contrações também iam e vinham. Com o passar do tempo elas foram ficando mais fortes, com intervalos menores e duravam mais...
Eu estava desesperada com as dores e apavorada com o desconhecido: o parto normal. Ser mãe.
Eu já sabia que era uma menininha. Já éramos amigas íntimas, pois durante toda a gestação nós tivemos o nosso momento mamãe e filhinha. Todas as noites eu ligava um aquecedor, sentava nua sobre um tapete e massageava minha barriga ao som de músicas clássicas: Vivaldi, Mozart, Chopin, Debussy... E durante as massagens nós conversávamos. Eu falava e ela respondia chutando e fazendo calombinhos na barriga.

Voltando às contrações. A cada contração forte que chegava e eu me contorcia. A minha "sogra ansiosa", solidária ao meu sofrimento, contraia a boca e apertava os dentes. E não é que ela conseguiu realizar a proeza de quebrar um dente?

Ah, finalmente vejo o meu querido obstetra. A sensação de alivio e de segurança foi enorme. Logo depois os enfermeiros me transferiram para a maca e rumamos para o centro cirúrgico. Um misto de pavor e emoção tomava conta do meu corpo. Entramos então numa sala gelada e extremamente iluminada. Eram exatamente 20h

O anestesista aplicou a anestesia e foi conversando comigo enquanto a equipe apressava tudo, pois o bebê tinha pressa e já estava nascendo. O médico disse-me que eu era de uma família de boas parideiras, e ele pediu-me para fazer força. Eu fiz força uma única vez e ele falou:
- Não precisa mais. O bebê já nasceu.
Mal deu tempo da anestesia fazer efeito. E a sala encheu-se de um choro forte e um delicado perfume de vida. Enrolaram a pequenina num lençol verde e a puseram chorando sobre o meu peito. E eu logo falei:
-Não chore minha filhinha, sou eu, a sua mãezinha, que conversava com você todas as noites. Eu vou cuidar e te proteger. Não tenha medo.

Ao ouvir o som da minha voz, exatamente como eu falava em nossos encontros durante as massagens, ela se acalmou e parou de chorar... Então a enfermeira a tirou do meu peito para o pediatra examiná-la.

Aquele momento marcou para sempre a minha vida, a vida do meu querido ginecologista/obstetra e a vida da minha família. Enquanto meu médico lia e relia minha ficha médica, meu marido chorava. E eu? Ah, eu dormia um sono tranquilo, pois eu acabara de dar a luz ao ser mais lindo e perfeito do mundo. Uma linda menina. Tudo o que eu queria.

Minha irmã mais velha foi a pessoa escalada para passar a noite no hospital. Eles sabiam o porquê, mas eu não. Eu dormia o sono dos justos. No dia seguinte ela me perguntou se eu tinha visto meu bebê e o que eu tinha achado. Eu disse que o bebê reconheceu a minha voz e se acalmou em meu peito e que era uma criança linda.

Não foi à toa que escolheram minha irmã para passar a noite comigo. Ela tinha sido escolhida para dar-me uma notícia, e não sabiam como eu reagiria a ela. Minha irmã me falou muitas coisas das quais eu me lembro muito bem, e não vou repeti-las porque na minha mente e coração só existia o sentimento e a certeza de que minha filha era linda, saudável e perfeita.

E depois desta conversa, só depois é que trouxeram o meu bebê para ter a sua primeira mamada. Meu Deus, como era linda e perfeita. E para mim ela era muito especial.

Meu marido disse que ela se parecia comigo e tinha os cabelos castanhos como os meus. Então seu nome seria Marina. Por causa da música “Marina morena Marina. Você me encantou...”. Só que com o tempo, os olhinhos de cor cinza tornaram-se azuis da cor do céu. E em sua cabecinha surgiram delicados fios loiros com pequenos cachinhos nas pontas.

E foi assim que nasceu minha primeira filha. Uma filha especial.
Especial porque com um ano e meio de idade ela já cortava papéis e tecidos utilizando tesouras melhor do que crianças em fase escolar.

Especial porque quando entrou na escolinha maternal me fez debulhar em lágrimas numa apresentação para o dia das mães.

Especial porque quando estudou na escola Miudinho parecia um peixinho dentro da água nas aulas de natação.

Especial porque conseguiu emocionar as professoras do maternal e pré por tamanha destreza e agilidade no manejo dos materiais e ferramentas ao fazer os trabalhos escolares. Por ser sempre a primeira a terminar os trabalhos manuais. Por fazer um colar de contas para o dia das mães em apenas trinta minutos enquanto o resto da classe levou a aula inteira. E alguns não conseguiram terminar.

Especial porque tocava lindamente teclado, tirando as músicas de ouvido.

Especial porque quando nós íamos ao shopping eu a vestia com vestidinhos bem delicados e femininos e ela detonava nos games de lutas junto com a sua irmãzinha menor. Os meninos paravam só para verem aquelas duas loirinhas, tão femininas jogarem um game tipicamente de menino.

Especial porque ela tornou-se uma mulher, adulta. Ela é uma profissional competente, que ama o que faz. Linda e corajosa, pois anda de bike por São Paulo.  Ah, e de cabelo rosa.

Minha filha é especial porque mudou a minha vida para sempre. Há vinte e cinco anos. E na sua maior expressão de amor, como ela gostava de dizer, eu repito a frase: Eu te amo do fundo do “coação cô da rosa”.

Querida filha, eu te amo. Você é linda e perfeita. Só me enganaram quando disseram que você era Marina Morena e na verdade era uma branquinha de cabelos loiros e olhos azuis.. Ops, cabelos cô da rosa.

Comentários

  1. LINDO....A MARINA SEMPRE FOI UM BEBÊ LINDO..

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  2. Que lindinho Helô, muito bom. Parabéns.

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  3. A maternidade é uma experiência única, não importa quantos filhos tenhamos tido ao longo da vida.

    Beijo pra você e pra Marina, que também é do dia do Samuel e da Rebeca (e da Eliana Lotufo e do Tiago Guimarães, da Comuna!). Ô dia bom pra nascer!

    Talita

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  4. Que texto mais lindo! Eu me emocionei muito, Helô, e lembrei do recente passado do Theo e ainda vi algumas cenas interessantes no meu futuro com ele... Hehehehe! Um beijo no seu "coação co da rosa"!

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  5. Quanta ternura, Helô!
    Parabéns pelo texto, parabéns para a Marina. Um beijo

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  6. Que lindo, Helô. Que ternura e singeleza. Parabéns pela vida, pela filha e por essa amizade maravilhosa entre vocês. Um bjo emocionado.

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  7. Linda homenagem! A maternidade nos prmite discernir melhor o coração de Deus: pai e mãe! Isabelle Ludovico

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  8. Lu, que lindo!
    Fiquei lembrando dela quando pequena, ao som de muita Xuxa. "Quem quer pão, quem quer pão, quem quer pão que está quentinho, bem quentinho..."

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  9. Emocionante tia!! Bjs

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