Personagens reais ou que saíram de algum livro?

Alguma vez você topou com uma pessoa e questionou se o que estava vendo era real ou se tinha acabado de sair das páginas de algum livro de contos ou ficção?
Eu confesso que já esbarrei com tipos que pareciam ter escorregado de alguma página de livro.  Vou comentar sobre dois deles: O baixinho de bombachas coloridas, e a pequena mulher que andava ao contrário.

Parte 1 - O baixinho de bombachas coloridas. 

Eu não sei qual era o nome do sujeito, mas que ele “causava” por onde passava, ah “causava”. 
O ministério da Saúde adverte: “Olhar para este homenzinho a olho nu, pode causar danos. Portanto, por precaução, antes de fitá-lo recomenda-se o uso de óculos escuros“.  

As roupas daquele pequeno homem era pra “fashionista” algum botar defeito. Ele conseguia usar, praticamente, toda a paleta de cores. Seu visual era repleto de cores, detalhes e acessórios. Quanto mais você olhava para aquela figura colorida mais novidade na roupa se descobria.

Este sujeito era uma figura diferente. De pequena estatura, acredito que não alcançava um metro e meio de altura.  Seus cabelos tingidos de preto eram repartidos e untados com óleo de babosa, comprado na loja do meu cunhado, é claro. 
Ele já devia ter certa idade, pois o seu rosto parecia um origami, cheio de dobras de pele. Uma vida bem vivida.

Em sua boca havia uma dentadura que teimava em não ficar no lugar. Enquanto ele articulava as palavras vigiava a dentadura para não pular no chão. Parecia que tinha vida própria. Eu ficava agoniada com aquela dentadura saltitante.

A cada quinze dias ele surgia pela avenida principal montado em seu cavalo que apeava sempre na esquina da loja. 
Ele era figura constante na loja do meu cunhado. Estava sempre a procura de um ponto russo largo com desenhos multicoloridos, rendas, fitas, sianinhas, botões. Tudo para enfeitar suas vestes de gaúcho tradicional.
Gostava de usar camisas de cores fortes e vibrantes, pra deixar qualquer personal stylist de cabelo em pé. Cores como verde bandeira, azul royal, vermelho boi berrando, laranja madura... As camisas eram confeccionadas por uma costureira, pois a modelagem era diferente da tradicional camisa masculina. A gola era grande, pontuda e com bordados. As mangas eram fartas e bufante com entremeios coloridos, sianinhas, e nos punhos havia pequenas pregas e nervuras. 

A frente da camisa também havia prega, um plissado ou nervuras e enfeites sobre os bolsos frontais. Algumas camisas tinham um bordado de casinha de abelha ou capitonê como alguns conhecem. Os botões da camisa não eram simples botões. Eles eram de madrepérola, outras vezes dourados, ou de osso com pedrinhas coloridas.
Sobre a camisa vez ou outra ele aparecia com um colete preto bordado com desenhos multicoloridos.
Como bom gaúcho ele não usava calças comuns, mas bombachas (pilchas), franzidas, pregueadas, com bordados coloridos nas laterais das pernas. As pilchas também seguiam as cores vibrantes das camisas. 
Se ele colocasse a bombacha verde bandeira a camisa seria vermelho sangue ou laranja madura. A maioria das vezes que o vi estava com bombacha azul royal ou com a bombacha roxa. Acho que eram suas preferidas.

Unindo as duas peças extremamente coloridas e ricas em detalhes, um cinto largo preto cheio de taxas. Quase ao lado, preso no cinto, uma bainha sustentando uma faca, conhecida por alguns como peixeira. Nos pés, um par de botas pretas no estilo dos pampas. E na cabeça um chapéu preto de boiadeiro gaúcho com tachas prateadas e fita colorida. 
E não podia faltar o arremate que era um lenço vermelho amarrado ao pescoço.

Eu não sabia seu nome nem onde morava, e muito menos o que fazia para ganhar a vida. Um gaúcho de raiz. Com suas roupas tradicionais. E com orgulho desfilava pela cidade montado em seu cavalo. Colorido e feliz. Era uma figura folclórica da região. 

E o mais incrível é que eu nunca vi qualquer pessoa da cidade comentar, rir ou fazer piada sobre aquele senhor. 
Quando chegava à cidade, passava pela avenida e entrava nas lojas não havia qualquer sinal de deboche ou risinhos escondidos... Ninguém jamais questionou a masculinidade daquele homem por vestir-se com tamanho abuso das cores.

Será que algum dia aquela faca pendurada no cinturão saiu da bainha e riscou algum crítico de moda? Porque aquele baixinho de cabelos tingidos de negro, vestido em roupas tradicionais gaúcha, mas com uma overdose de  cores, tinha tanto respeito das pessoas?

Será que a mulher que andava ao contrário pela rua teria coragem de sair colorida pelas ruas? Acho que não, mas ela também era pequenina como o homenzinho da bombacha.



Parte 2 - A mulher que andava ao contrário. 


Em breve...

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